segunda-feira, 30 de maio de 2011

FAZER MAIS AQUILO QUE SABEM FAZER MELHOR



Muito se tem falado em "terceirização". E confesso que tenho ouvido argumentos os mais complicados para defender e mesmo para atacar a terceirização. Tenho notado porém, um equívoco fundamental nessas abordagens todas. Quase todas enfatizam apenas o lado da "economia" que a terceirização representa para a empresa. Enfatizam apenas a "racionalização" que a terceirização traz. Não creio que estes sejam os maiores argumentos.
A verdade é que vivemos na época de maior aceleração da história da humanidade. O ciclo de vida dos produtos é cada vez mais curto. Vivemos um século, num mês. Hoje será o mais rápido que vencerá o mais lento e não o maior que vencerá o menor. Como diz Tom Peters em seu ultimo livro, haverá somente dois tipos de gerentes daqui prá frente – os expeditos e rápidos e os mortos. Somente em 1990, nos Estados Unidos, falando apenas de produtos de supermercados, foram lançados 123 novos cereais, 64 novos molhos para massas e 54 novos detergentes para máquinas de lavar roupas. E em todos os campos a velocidade é semelhante. Ninguém pode ficar parado para ver o que acontece.
As empresas têm (e não apenas devem), para que possam sobreviver, que concentrar-se no seu negócio principal, no seu chamado "core business" As empresas, diretores, gerentes, não poderão perder um minuto sequer para fazer coisas que não pertençam ao seu negócio principal. Uma fábrica de biscoitos deve concentrar-se em fazer a cada dia melhores biscoitos, a conhecer cada vez melhor seus clientes a relacionar-se com eles. Em síntese, a empresa de hoje TEM QUE FAZER MAIS AQUILO O QUE ELA SABE FAZER MELHOR. Não pode perder tempo com coisas que estejam fora de seu "essencial". E hoje, o maior ativo de um executivo, seja ele de que nível for é o tempo. Fazer coisas que não façam parte do seu essencial é perder tempo.
Portanto, permitir que terceiros façam para nossa empresa coisas que essas empresas sabem fazer melhor do que nós, é possibilitar a empresa vencer os desafios da concorrência nestes anos 90. É livrar a cabeça do executivo para que pense mais no seu negócio principal. É não desviar a atenção da empresa para atividades que não sejam a essência do seu papel e o motivo principal pelo que somos contratados, nossos produtos são comprados, nossos clientes são satisfeitos.
Quando vejo a terceirização analisada apenas pelo lado dos "custos", nunca vi analisado o quanto custa o tempo do executivo que tem que se dedicar a coisas que não são a essência do seu trabalho, nem a sua especialidade, nem mesmo o seu interesse. Além disso, é claro, as tensões, a concentração, a ansiedade causada pelo fato de se fazer aquilo de que pouco se entende precisa ser tirada da empresa moderna. Some-se a isso o fato de que empresas especializadas em fazer as coisas que sabem fazer melhor, renovam seus equipamentos, estão mais próximas do desenvolvimento tecnológico de sua área, acompanham o tempo dentro de sua especialidade, o que uma empresa de outro ramo, não tem hoje, condições mínimas de fazer.
Outra discussão que me parece dispensável é saber, afinal, o que terceirizar? Minha resposta é sempre a seguinte: Tudo o que puder ser feito melhor por alguém e que possa liberar você, sua empresa, seus executivos para que se concentrem no seu negócio principal. E tenho a ousadia de dizer – independentemente dos custos, que nunca serão totalmente avaliados. Afinal, quanto custa um contingente de funcionários numa empresa fazendo coisas que não fazem parte da essência da empresa? Quanto custam as instalações usadas? Qual o "passivo oculto" trabalhista e não-trabalhista? Quanto custa um diretor ou gerente receber em sua sala um gerente de uma área da qual ele não entende, nem foi treinado para entender, fazendo perguntas e exigindo decisões que têm que ser a cada dia mais rápidas?
Tenho visto que possíveis erros da contratação de empresas para fazer serviços terceirizados para uma empresa, são ainda menores do que os erros que cometemos dentro de nossa empresa tentando fazer bem aquilo que não faz parte de nosso negócio principal. É claro que cuidar para que o seu contratado seja de primeira linha é fundamental. Daí, novamente, o preço o custo dos serviços deve ser avaliado. De nada adianta contratar somente o mais barato, o mais pobre, que por certo será aquela empresa que terá menores condições de me prestar um bom serviço terceirizado.
Para sintetizar, quero dizer uma coisa que pode parecer, muito radical mas me parece a realidade: Terceirizar não é moda. Não é modismo. Não é coisa passageira. Terceirizar é questão de sobrevivência. Da mesma forma que o governo deve privatizar tudo aquilo que não seja a sua função principal, pois que nessas funções deve concentrar-se, a empresa moderna tem que enxergar a realidade de que só sobreviverá se fizer mais, aquilo que souber fazer melhor.

Texto do Prof. Luiz Marins