quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Pode menos, ser melhor que mais? Como a complexidade pode arruinar o seu negócio

A economia globalizada e a informatização oferecem aos consumidores mais poder do que sempre tiveram – o de permitir a comparação entre dezenas de opções e preços no clique de um mouse, por exemplo.

As empresas respondem expandindo seus menus de produtos e de serviços e com isso estão sendo arrastadas e engolidas pela complexidade demasiada em seu negócio, o que pode fazer com que os possíveis ganhos sejam simplesmente eliminados pela complexidade e pelo “abarrotamento” de produtos, modelos, embalagens, etc.

Quando temos muitas opções e total liberdade da escolha, poderia menos ser melhor do que mais?

Um livro intitulado, Vencendo a complexidade no seu negócio, (Conquering Complexity in Your Business - How Wal Mart, Toyota and Other Top Companies are Breaking Through the Ceiling on Profits and Growth – George Group Editor - 2004) sugere que em muitos casos fornecedores e consumidores poderiam se beneficiar de ter menos escolhas ou opções a fazer. Escrito por Michael George, CEO do George Group de Dallas e por Stephen A. Wilson, diretor da mesma consultoria, o livro discute que as organizações pagam um preço muito elevado diversificando seus produtos ou serviços, mantendo uma linha ou portfólio que diversificou além do razoável.

Com relação às pessoas, o fenômeno é fácil de ser verificado. Indivíduos altamente motivados vão se entupindo de tarefas e acabam tornando-se profissionais ruins naquilo que eram bons e tendo um desempenho geral abaixo do satisfatório. Isso porque tentam fazer demasiadas coisas com um tempo absolutamente limitado para fazer bem um amontoado de coisas.

As empresas e organizações são vulneráveis ao mesmo tipo de doença.

A complexidade, ou a desordem gerada pelo acúmulo de produtos, serviços, portfólio, etc. acabam “comendo” os lucros, desfocando recursos escassos e mascarando a verdadeira rentabilidade.

A complexidade cria barreiras entre a empresa e seu cliente. Do ponto de vista do cliente, um portfólio complexo, desordenado, significa que a empresa não compreende verdadeiramente o que seu cliente realmente necessita, e a empresa corre o risco de criar produtos e serviços que complicam a tarefa de optar, de decidir. Isso pode frustrar o cliente. Um estudo citado pelos autores mostra que os clientes pagariam um prêmio adicional de 8% por uma experiência mais simples como consumidores e 50% mudaria de marca para obter um relacionamento mais simples, uma forma mais simples de decidir, de comprar.

A complexidade tem três impactos distintos que prejudicam fortemente a empresa. O primeiro impacto é o dos custos. O segundo relaciona-se ao foco, desde que a complexidade desfoca a empresa das áreas chaves de crescimento dos produtos e serviços que geram maior rentabilidade. Finalmente, a complexidade impacta diretamente processos, aumenta custos e consume recursos financeiros e de trabalho que deveriam ser dirigidos e concentrados em setores de crescimento e rentabilidade.

Ser simples, pois, é mais um desafio para as empresas que querem vencer neste louco mercado.

Luiz Marins

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Ofende os bons, quem poupa os maus

Há um ditado latino que diz: “bonis nocet, qui malis parcit”.

Esse ditado é repetido em vários países, em vários idiomas: “Who pardons the bad, injuries the good” na Inglaterra e nos Estados Unidos. “Chi perdona ai cattivi, nuoce ai buoni” na Itália; “Qui épagne le vice, fait tort à la vertu” na França; “Ofensa hace a los buenos el que a los malos perdona” na Espanha. Em nosso bom português é “Ofende os bons quem poupa (ou protege) os maus”.

Veja quanta verdade está inserida neste ditado!

Quando somos complacentes com quem não é bom, estamos, na verdade, ofendendo os que são verdadeiramente bons.

Veja na empresa. Quando protegemos funcionários que não são comprometidos, que não buscam ser competentes, que não atendem bem, que não participam de nossa visão e nossas crenças, estamos, na verdade, punindo os bons, aqueles que são comprometidos, que são competentes, que atendem bem, que compartilham de nossa visão e nossas crenças. É ou não verdade?

Quando um chefe vê um erro ou um trabalho mal feito e não chama a atenção do subordinado, está na verdade ofendendo quem faz bem feito e luta para se aperfeiçoar todos os dias.

Quando um funcionário atende mal a um cliente e não é chamado a atenção ou punido pelo seu chefe, esse chefe está na verdade, indiretamente, punindo quem faz todo o esforço para atender bem os clientes.

E nada é mais desmotivador para um funcionário do que a injustiça de ver pessoas erradas sendo tratadas da mesma forma que pessoas certas. Nada é mais desmotivador do que vermos pessoas desonestas sendo tratadas da mesma forma que as honestas. Nada é mais desmotivador do que a injustiça e a impunidade.

Da mesma forma é com os clientes. Ofende os bons clientes, a empresa que não faz diferença entre os bons e os maus e trata os maus da mesma forma que os bons. Clientes que não pagam em dia, que não seguem as instruções de uso de nossos produtos, não podem ser tratados da mesma forma que os que são realmente comprometidos com o nosso sucesso como empresa.

Um dos grandes problemas do Brasil, dizem os jornais e revistas, é a impunidade. Quem faz o certo sente-se injuriado ao ver a impunidade. Assim, os que pagam seus impostos em dia são zombados pelos que não pagam, na certeza de uma anistia fiscal. Os que chegam aos compromissos no horário marcado sentem-se tolos, ao verem que o horário respeitado é o dos que chegam meia hora atrasado. Os organizadores do evento ainda têm a petulância de dizer: “Vamos demorar mais meia horinha (sic) para começar porque muitos convidados ainda não chegaram...”. Quem respeita as leis do trânsito fica revoltado ao ver os que desrespeitam o fazerem na frente de um policial, e nada acontecer. Isso sem falar nos corruptos soltos. Nos traficantes soltos. Nos pichadores do patrimônio histórico que são elogiados como “grafiteiros”, etc.

Anestesiado por tanta impunidade, como se sente o brasileiro?

Lembre-se: “Ofende os bons, quem poupa os maus”.

Faça um exame de consciência e veja se você também não está cometendo essa injustiça.


Luiz Marins

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Primeiro viver, depois filosofar

Conheço pessoas e mesmo empresas que têm uma enorme capacidade para desenvolver novas idéias e projetos, mas que não conseguem transformar essas idéias em ação. Elas ficam meses e até anos pensando, reformulando o pensamento, aperfeiçoando o projeto, mas não conseguem transformar essas idéias em ação e essa ação em resultados.

Conheço empresas que têm um excelente departamento de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos que nunca são lançados no mercado. Elas não acreditam na própria capacidade de transformar essas idéias maravilhosas em produtos reais no mercado. Às vezes chego a pensar que elas têm medo do mercado e se escondem desenvolvendo “novos produtos” num laboratório.

O filósofo inglês Thomas Hobbes em seu livro O Leviatã (1651) registrou a frase latina - Primum vivere, deinde philosophare - Primeiro viver, depois filosofar. Essa frase tem o mesmo sentido da famosa inscrição do barco grego - Navegar é preciso, viver não é preciso. O que ela quer dizer é que para viver é preciso primeiro pescar e para pescar é preciso navegar. Assim, numa redução simplista, o que é preciso é navegar. Se eu não navegar, não vivo, pois que não terei do que viver e o que comer.

Há ainda um velho ditado português que diz: Tenhamos a pata; então falaremos da salsa, ou seja, primeiro vamos conseguir o pato ou o frango, depois vamos conversar sobre o molho. Tem gente que gasta horas discutindo o molho sem a menor perspectiva de conseguir o frango.

Não estou querendo dizer que filosofar, pensar, cismar, questionar não seja importante. Para que caminhemos com o devido entusiasmo é preciso que saibamos onde desejamos chegar. O que quero ressaltar, no entanto, é que não basta o saber. É preciso agir. E agir com os pés na realidade.

Conheço pessoas e empresas com sonhos mirabolantes de sucesso. Conheço empresas e pessoas que passaram a vida sonhando em realizar grandes negócios, enormes projetos, grandes empresas, mas que ficaram no sonho, na filosofia. Nunca desceram à realidade concreta do mundo real. São pessoas maravilhosas. Empresas que têm todas as condições de crescer, mas que ficam distantes das coisas simples e concretas que fazem, de fato, o sucesso ocorrer.

Assim, é preciso que nunca nos esqueçamos que é preciso primeiro viver, trabalhar, conseguir os recursos para então filosofar, isto é, pensar nas coisas menos concretas e de maior conteúdo abstrato.

Vejo esposas desesperadas ao verem seus maridos desempregados há meses e escolhendo o emprego dos sonhos, o lugar ideal para trabalhar. Nenhum lugar é bom demais que mereça seu trabalho. Enquanto isso falta o pão, o leite, o feijão, o arroz e o uniforme das crianças... Primum vivere, deinde philosophare!

E você como é? E sua empresa?

Faça um retrospecto de todos os projetos e sonhos que já teve e que nunca foram realizados por falta de uma visão mais empreendedora da vida. Faça um bom exame de consciência e veja se você também não está discutindo o molho antes de conseguir o frango.

Pense nisso. Sucesso.

Luiz Marins

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Vão Invadir o Brasil!

Este artigo, não tenho ilusões, gerará muita polêmica. Não posso provar nada do que vou dizer. Trata-se, tão e somente, de uma visão que acredito, como antropólogo, analisando o mundo em que estamos vivendo e tomando como base os trabalhos de consultoria que tenho prestado a empresas nacionais e transnacionais por quase trinta anos.

Sem xenofobismo algum e sem medo do que, acredito, vai acontecer, o Brasil sofrerá, nos próximos anos uma forte invasão do capital estrangeiro. Não se trata de perguntar se será bom ou ruim para nós. Na minha opinião, essa invasão ocorrerá, queiramos ou não, gostemos ou não.

A lógica desta minha certeza é simples:

O mundo inteiro está conturbado. Muito mais conturbado e complexo do que nós brasileiros imaginamos. O Oriente Médio, o Sudeste Asiático, a Europa, os Estados Unidos, o Japão, a Índia, a China, todos têm problemas próprios específicos bastante preocupantes. Europa, Japão e Estados Unidos, mercados maduros com chances quase nulas de expansão nos próximos anos. O Japão está em depressão há mais de três anos.

A Europa, envelhecida vê sua população consumidora sumindo a cada dia. Os movimentos pró-imigração sofrem violenta oposição na Europa e nos Estados Unidos. As empresas precisam de imigrantes para terem para quem vender, mas a população vê nessa abertura os perigos do aumento das tensões sociais, inevitáveis. Os Estados Unidos serão, cada dia mais, alvo de grupos terroristas, de insegurança e sua mão de obra a cada dia será tão mais cara que o restante do mundo, que produzir lá será quase impossível pelos custos. Assim, o déficit americano é brutal, quase inimaginável para nós, chegando à casa de um bilhão de dólares por dia!

É bom lembrar que a China e a Índia, grandes competidores do Brasil pelo capital externo, são países não-ocidentais. Desde o idioma, sistema jurídico-legal, cultura, etc. tudo é absolutamente diferente do mundo ocidental. Além disso a China tem um regime político fechado, comunista. A Índia tem mais de mil dialetos, sistema de castas de complexa compreensão para os ocidentais, uma imensa população campesina que chega a 72% dos habitantes.

O Brasil, ocidental, com um sistema bancário dos mais avançados do mundo; com empresas modernas e ocidentais aqui presentes há mais de cinqüenta anos; com um sistema moderno de telecomunicações, etc. em minha opinião será o local escolhido pelo capitalismo para aportar seus trilhões de dólares que buscam pouso diariamente neste mundo maluco e inseguro. Lembre que as diversas fontes falam em mais de três trilhões de dólares que voam diariamente no mundo procurando um pouso seguro para dar retorno a seus acionistas – fundos de pensão, fundos de investimentos.

Como o leitor não ingênuo bem sabe, o capital não tem pátria. Já tivemos as invasões holandesa – Companhia das Índias Ocidentais – e francesa, todas elas financiadas pelo capital internacional da época. Os holandeses expulsos do Brasil foram para Manhattan e criaram lá o seu império econômico que hoje domina o mundo.

Falando de forma bem explícita o que acredito é o seguinte:

O capitalismo internacional usará o Brasil como “local privilegiado” para aqui fazer o seu “porto seguro” (sic). Produtores de grãos americanos comprarão cada vez mais terras no Brasil e daqui enviarão para o mundo. Produtores de veículos farão o mesmo. E todos os setores utilizarão o Brasil como uma “base” para seus interesses internacionais. Por quê?

Porque o Brasil é um País neutro, pacífico, fora das contendas internacionais étnicas ou fundamentalistas. É um País pacífico, cristão, de um povo simples e cordial como dizia Sérgio Buarque de Holanda e de um povo “tolerante” como afirmava Gilberto Freyre. Além de tudo que recebe, como nenhum outro país do mundo, os estrangeiros de braços abertos.

No Brasil temos o instituto da “dupla nacionalidade” que poucos países aceitam. Funcionamos na base do “Jus Soli” e não do “Jus Sanguini” isto é, consideramos “brasileiros” os que nascem em nosso solo e não classificamos as pessoas pelo sangue como fazem os anglo-saxões, por exemplo.

Ficamos orgulhosos quando sabemos que a Volkswagen “brasileira” exporta “nossos produtos” para o mundo inteiro. Consideramos o “Gol” brasileiro e não “alemão”.

Consideramos os carros Chevrolet exportados para o mundo como “brasileiros” e não “americanos”. Nos Estados Unidos, qualquer Toyota é japonês e não americano. Um Honda é sempre japonês, embora fabricado no solo americano.
Produtos “Made in Brazil” não têm qualquer restrição política ou fundamentalista no mundo. Quem pode ser contra produtos feitos na terra do “samba” do “futebol”, do Pelé e dos Ronaldinhos?

No último mês de julho o Brasil recebeu investimentos diretos em valores superiores a todos os últimos meses. Os jornais noticiam estrangeiros comprando entidades de ensino superior – faculdades, universidade no Brasil. O Departamento de Agricultura dos EUA (Ministério da Agricultura) diz que o número de plantadores de grãos americanos interessados em comprar terras no Brasil tem crescido exponencialmente.

Por quê?

De repente, nós, ingênuos brasileiros veremos a OMC aceitar todas as exigências “brasileiras” com relação ao comércio internacional. E a razão será que mais de 50% desses produtos “brasileiros” serão produzidos aqui pelo capital internacional. A soja “brasileira” será das Cargil, dos Bunge, das Monsanto, etc. Nossos veículos invadirão o mundo – todos “brasileiros” produzidos pela Daimler-Chrysler, General Motors, Toyota, Renault, etc..

Todas as barreiras irão cair, uma a uma, como por encanto. Nossos políticos dirão que o Brasil é a “bola da vez” positiva.

Assim, o capital judeu, por exemplo, encontrará a cada dia mais no Brasil um porto seguro para investir. Quem no Brasil é anti-semita? Quem deixa de comprar produtos pela sua origem étnica ou religiosa?

Assim, acredito ser um erro enorme os judeus brasileiros estarem fazendo uma campanha pública pelos meios de comunicação para mostrar que “ser judeu é bom”. A quem serve essa campanha? De que serve sabermos que um artista ou um empresário é judeu? Só servirá para criar discriminações que não existiam e atrair possíveis atitudes anti-semitas de grupos radicais históricos mundiais.

É bom lembrar que o Brasil tem como “ethos” ou visão ilusória (como querem alguns) ser uma sociedade igualitária, de paz, de convivência, de tolerância. “Todos” somos “brasileiros” – árabes, judeus, muçulmanos, cristãos mórmons, católicos, protestantes de todas as denominações. Por que se querer mostrar “judeu” ou “muçulmano” em vez de simplesmente um “brasileiro a mais que ama este país maravilhoso” como gostamos de ser vistos?

Temos a visão ilusória de que no Brasil negros e brancos vivem harmonicamente, sem preconceitos. A quem interessa ver os negros dizendo-se cada vez menos “brasileiros” e mais “negros” ou os brancos dizendo-se os “legítimos brasileiros” ou aos descendentes de portugueses dizendo-se os reais “donos da nacionalidade brasileira”?

Já se disse inúmeras vezes que o “melhor produto do Brasil é o brasileiro”. Executivos do mundo todo que viajam sem parar, dariam tudo para ter um passaporte brasileiro. A primeira coisa que um seqüestrador faz é tomar os passaportes dos seqüestrados para saber sua nacionalidade. Todos têm alguma coisa em sua história que os poderá fazer discriminados. Se for de Israel, Arábia Saudita, França, Alemanha, sempre terão histórias de guerra e discriminação no passado. Se for americano, não preciso nem comentar. E o brasileiro? Trata-se de um “inofensivo”. Quem é contra o Brasil? Na própria América Latina, o Brasil é o País menos discriminado. Argentinos e chilenos pouco se dão. Colombianos e venezuelanos, idem. O Brasil é sempre visto (ainda) como o “cordial” e o “tolerante”, o “alegre” como dizem os autores discriminados por isso afirmarem. Mas essa é uma verdade sociológica insofismável.

O único “risco” que corremos, portanto, é ver as diversas etnias e religiões se autodenominando mais “eles” do que “brasileiros”. Isso atrairá o que nunca tivemos.
Como acredito que o bom senso desses grupos acabe prevalecendo, até pela experiência que tiveram em outros países, o Brasil continuará sendo o local ideal para esse capitalismo “selvagem” e sem pátria.

Não me pergunte, repito, se isso será bom ou ruim para nós brasileiros. Empregos e renda serão gerados para o Brasil, neste mundo globalizado e desnacionalizado. Será que algum brasileiro quer que a Volkswagen deixe o Brasil? Que a Danone ou Parmalat ou Nestlé vão embora do Brasil; que a Eletrolux ou a Philips nos deixem? Ou que as marcas Brastemp e Cônsul (Whirpool – americana) ou Walita (Philips – holandesa) ou Arno (SEB – francesa) deixem de existir como “brasileiras”?

Um dos mais importantes fundamentos teóricos da antropologia é não emitir juízos de valor etnocêntrico. Fazemos apenas uma análise do que acreditamos com base em dados etnográficos e fazemos ilações teóricas antropológicas.
Acredite. Eles vão invadir o Brasil.

Pense nisso. Sucesso!

Luiz Marins

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O Rico Mercado dos Pobres

C. K. Prahalad, professor de Estratégia Corporativa na Escola de Negócios da Universidade de Michigan, vem trabalhando, nos últimos anos, numa tese de que o mercado dos pobres deve ser explorado para o bem da humanidade. O seu mais novo livro, "The Fortune in the Bottom of the Pyramid: Eradicating Poverty through Profits", indica que não somente as empresas podem fazer dinheiro vendendo aos pobres, “mas devem sentir-se obrigadas a empreender tal esforço para diminuir a distância entre países ricos e pobres.” Prahalad vê nos pobres um mercado potencial de 4 bilhões de pessoas que poderão ser 6 bilhões nos próximos 40 anos.

Sua tese se baseia na realidade de que, tomados em seu conjunto, nações em desenvolvimento, como China, Índia, Brasil, México, Rússia, Indonésia, Turquia, África do Sul e Tailândia, têm mais PIB, em Paridade de Poder de Compra, (Purchasing Power Parity) que o Japão, a Alemanha, a França, o Reino Unido e a Itália. A base da pirâmide para Prahalad é a maior oportunidade de mercado na história do comércio mundial.

Um ponto central do livro é que o esforço para ajudar os mais pobres pode revelar-se um sucesso em diferentes países e em diferentes setores da economia. Constituem uma exceção os países cujo sistema jurídico seja muito precário como Somália e o Congo, por exemplo, e os que têm apenas e tão somente indústrias mais básicas, como as de extração.

O lucro, diz o autor não é o único objetivo para as empresas atuarem mais firmemente nos mercados pobres. A criação de empregos, a luta contra a exclusão social, a atuação para melhorar o caos político, o terrorismo e a degradação ambiental, são motivos suficientes para uma empresa agir nessas regiões. Essas condições geram instabilidade e violência que afetam os países de primeiro mundo e os próprios ricos.

A estratégia para trabalhar nesses mercados, ressalta o Prof. Prahalad, não é simples. Talvez esta seja uma das maiores razões pelas quais as grandes empresas não tentaram colocar seus produtos para as grandes massas das pessoas pobres. Quem é pobre geralmente vive em zonas rurais e faz parte de uma economia informal, o que exige uma estratégia e uma abordagem de mercado totalmente diferente da utilizada em mercados convencionais urbanos.

No livro ele dá alguns exemplos: Em Bangladesh, algumas empresas fazem um bom negócio alugando telefones celulares por minuto. Em Kerala, Índia, imagens de satélite dos cardumes são descarregadas em PCs nas cidades, lidas e interpretadas por mulheres que indicam seguidamente aos seus cônjuges onde pescar. Por seu lado, os homens, após um dia de pesca, utilizam os seus telefones celulares para rever os preços de vários portos da costa e obter a melhor oferta pela sua mercadoria.

Para Prahalad, estes exemplos são provas que há soluções de mercado para o problema da pobreza. A tarefa para as grandes empresas, diz ele, é romper com a lógica dominante que vê os pobres do mundo como uma distorção que deve ser corrigida por governos e apoiada por organizações sem fins lucrativos.

O resultado do esforço em atender esse “novo mercado”, não somente será rentável para grandes empresas e consumidores, mas poderia também ser uma grande solução para os sérios problemas políticos e ambientais dos países em desenvolvimento e do mundo moderno.

Há alguns exemplos de empresas que têm um enorme sucesso no mercado de pessoas de baixa renda. Administradoras de cartões de crédito que tiram do pobre a angústia e o constrangimento de ter que fazer cadastro em todas as lojas. Bancos que fazem pequenos empréstimos que resolvem problemas pontuais simples para uma família de baixa renda. Lojas e centros comerciais voltados exclusivamente a produtos populares que atendem a uma demanda concreta por produtos com características mais simples e com boa qualidade. Agências de viagem especializadas em turismo para pessoas de baixa renda. São inúmeros os exemplos de empresários que descobriram formas de empresariar levando em consideração as necessidades concretas do mercado dos pobres. Muitos chamarão esses empresários de exploradores de pobres. Mas a verdade é que se eles não existissem os pobres continuariam relegados à marginalidade do mercado.

E todas as pesquisas provam que o pobre paga suas contas em dia. Quem não paga é a classe média e alta. O pobre dá um extremo valor ao seu crédito e ao seu nome, um dos ou senão o seu maior e único patrimônio.

Pense nisso. Sucesso!

Luiz Marins

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Fazer o que gosta ou gostar do que faz?

Fazer o que gosta como forma de trabalho e de "ganhar a vida" é um dos maiores objetivos de qualquer pessoa. Desde a infância somos incentivados a buscar o que gostamos. Muitos gurus dizem que a pessoa só é feliz quando faz o que gosta. Uma das maiores fontes de infelicidade está em não fazer o que se gosta de fazer.

Testes vocacionais buscam saber do que e com o que você gostava de brincar na infância para descobrir sua real vocação adulta. A premissa é que na infância você brinca com o que realmente gosta. Descobrindo essas atividades espontâneas infantis, psicólogos e pedagogos acreditam descobrir a real vocação de uma pessoa na idade adulta.

Há ainda os recorrentes depoimentos de pessoas que afirmam não sentir necessidade sequer de férias, dando como explicação o famoso "faço o que gosto". Há ainda os que afirmam que "para mim o trabalho é um lazer porque faço o que gosto...".

Psiquiatras, psicoterapeutas, psicólogos e até pedagogos aconselham as pessoas estressadas ou deprimidas a abandonar as "amarras da vida", mudarem suas vidas e "fazer o que realmente gostam".

Vejo, também, jovens que entram numa determinada faculdade e desistem no segundo semestre ou no segundo ano. A razão, segundo eles é "vi que não era o que eu gostava...". E assim mudam de medicina para psicologia, de psicologia para publicidade, etc. Tudo em busca de "achar o que gosta".

Assim, fazer o que gosta parece ser fundamental para o sucesso pessoal, profissional e empresarial.
É claro que "fazer o que gosta" é o ideal de todos nós. Trabalhar num campo, num setor, numa empresa onde "gostamos do que fazemos" é um grande fator de ausência de estresse e tensão. Portanto, o ideal será sempre conciliar o trabalho com aquilo que espontaneamente se gosta de fazer.

Porém, como sabemos, esse ideal nem sempre é atingível. Nem sempre é possível trabalhar no que "gostamos". Nem sempre é possível fazer de nossa vocação original e intrínseca a nossa fonte de renda ou de emprego. Devemos, incessantemente, buscar esse ideal, mas num determinado momento de nossas vidas, chegamos à plena consciência e maturidade de que esse ideal não será facilmente atingido.

O tempo passou. Os compromissos se acumulam. Não podemos mais ficar pulando de galho em galho em busca do que simplesmente gostamos. Temos que "ganhar a vida". Temos uma família para criar. Filhos na escola. Prestações da casa própria. O tempo está passando muito rapidamente....

É justamente essa fase que eu chamo de "maturidade plena". É quando deixamos nossos "sonhos" que sabemos hoje, inatingíveis, e tomamos consciência do que realmente somos e do que realmente temos e poderemos ter – em condições de vida normal.

E é justamente essa maturidade que deve nos ensinar a gostar do que fazemos. Viver a vida toda em busca do "fazer o que gosta" pode nos desviar do prazer de "gostar do que fazemos".

Uma pessoa realmente madura, mais do que buscar fazer o que gosta, aprende a gostar do que faz. Aprende a ver na sua família, a sua família e a gostar dela como ela é. Aprende a ver na sua imagem, a sua verdadeira imagem e gostar dela como ela é. Aprende a ver o seu emprego como o seu emprego e a gostar dele e sentir prazer no trabalho. É um exercício de aprendizagem.

Aprendendo a gostar do que faz a pessoa começa a deixar de lado as eternas tensões de lutar contra o que faz. Ela aprende a enxergar o lado positivo do seu emprego, do seu trabalho, da sua profissão. Pessoas que vivem na busca incessante de fazer o que gostam, não se permitem enxergar o lado positivo do que fazem, do emprego em que estão, das coisas que possuem e até dos amigos com quem convivem. Estão o tempo todo em busca do que, muitas vezes, nem elas próprias sabem o que é. Elas sabem do que não gostam – e isso é quase tudo o que fazem – mas não sabe do que realmente gostam. E essa busca, muitas vezes, dura uma vida toda de insatisfação e não-realização.

É preciso aprender a gostar do que faz.
E que o leitor não pense que estou advogando a acomodação. Que estou defendendo a não-busca do ideal de fazer o que gosta. Que acredito na impossibilidade total de ganhar a vida fazendo o que se gosta de fazer. Pelo contrário. Advogo a busca do ideal de trabalhar, de fazer, de viver fazendo o que se gosta de fazer.

Mas insisto na consciência da realidade de que, num certo momento da vida é preciso gostar do que faz e buscar a felicidade na madura dedicação e comprometimento ao que se está fazendo.

Assim, acredito que o gosto pelo trabalho é também uma atitude mental. No momento em que eu aceitar o fato de que minha profissão é aquela; meu emprego é aquele; meus colegas são aqueles; posso desenvolver atitudes e comportamentos mais positivos em relação ao trabalho, à profissão e às pessoas.

Se sou médico ou professor e descubro aos 45 anos que "não era bem isso que eu queria ser", é claro que posso jogar tudo para o alto, mudar de vida, de profissão, etc. Mas será muito mais maduro se eu aprender a gostar do que faço encontrando dentro da medicina ou do magistério o prazer, a satisfação que por certo essas profissões podem propiciar.

Mas para gostar do que faz é preciso querer gostar do que faz. É preciso dominar a vontade e a parte imatura de nosso ser que busca fugir da responsabilidade do enfrentamento da realidade e "queimar as naus" do passado ou do que achamos que "gostaríamos de fazer".

Sei que muitos leitores não concordarão com o que estou dizendo. Sei que muitos leitores dirão que temos que buscar fazer o que gostamos até morrer. Que uma pessoa nunca deve deixar de buscar o ideal de fazer o que gosta. Concordo com o ideal dessa busca, com um ideal.

Mas, é preciso reconhecer, sem fantasias, que a vida, na prática, mostra que pessoas que aprenderam a gostar do que fazem acabaram descobrindo a felicidade e o sucesso de forma igualmente gratificante. Elas aprenderam a fazer do que fazem aquilo que gostam e não desperdiçam a vida esperando o que gostam para fazer.

Pense nisso. Sucesso!

Luiz Marins

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

"A Pátria é a família amplificada"

Estamos em plena Semana da Pátria e muitas vezes nos perguntamos como podemos transformar esse sentimento abstrato de “amor à Pátria” em algo concreto. O que, de fato, um cidadão comum, uma pessoa simples pode fazer para demonstrar seu amor ao Brasil. O que, de fato, está ao nosso alcance para construir uma pátria mais justa e feliz.

Acredito que uma das mais eficazes maneiras de amar o Brasil seja defender a família e seus valores. Ou seja, nos lembrar do sábio ensinamento do grande Rui Barbosa que afirmava: “A Pátria é a família amplificada”.

Assim, defender a Pátria é também defender a família. Lutar pela Pátria é lutar para que os valores da família não sejam destruídos. Trabalhar por uma Pátria mais justa é defender as crianças e a possibilidade de uma família ter acesso a educação de qualidade para seus filhos. Trabalhar por uma Pátria mais saudável é defender sistemas de saúde dignos para todos desde o pré-natal até a assistência aos mais idosos.

É impressionante que Rui Barbosa tenha dito em 1903 as seguintes palavras: “O sentimento que divide, inimiza, retalia, detrai, amaldiçoa, persegue, não será jamais o da pátria. A Pátria é a família amplificada.

E a família, divinamente construída, tem por elementos orgânicos a honra, a disciplina, a fidelidade, a benquerença, o sacrifício. É uma harmonia instintiva de vontades, uma desestruturada permuta de abnegações, um tecido vivente de almas entrelaçadas. Multiplicai a célula, e tendes o organismo...

Multiplicai a família, e tereis a pátria.Sempre o mesmo plasma, a mesma substância nervosa, a mesma circulação sanguínea...”

E todos nós sabemos que os problemas que vemos na sociedade de hoje, em nossa Pátria, nada mais são que conseqüências da desconstrução da família e de seus valores. Sem a estrutura familiar protegida, a Pátria se transforma num amontoado de pessoas efetivamente carentes que geram a agressividade e a violência ao mesmo tempo anônimas e generalizadas que temos assistido sem saber como enfrentá-las.

Lembre-se, a Pátria é a família amplificada, como dizia Rui. Salvar a família é salvar a Pátria.

Pense nisso. Sucesso!

Luiz Marins